quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Detection of Modern Spinal Implants by Airport Metal Detectors

Abstract

Study Design. Prospective cohort observational study.
Objective. To determine the detection rates of modern spinal implants by post-9/11 airport metal detectors.
Summary of Background Data. There are few data on the detection rates of modern spinal implants and few that examine the effects of body mass, construct complexity, or implant density.
Methods. Implants were tested ex vivo and in vivo using standard arch way metal detectors (AMDs) and handheld metal detectors (HHMDs) in use at the majority of European airports.
A volunteer carried individual spinal implants both individually and in various combinations of increasing mass in clothing pockets into the AMD. The same instrumentation was bench tested using HHMD at a distance of 5 cm. Forty patients with modern spinal implants were tested: lumbar disc replacement (8), cervical disc replacement (1), posterior deformity instrumentation (17), anterior deformity instrumentation (2), anterior reconstruction (2), PLIF (6), interspinous distraction device (1), anterior cervical plate (2), and anterior lumbar interbody fusion with cage (1)—all implants were titanium unless indicated. Mean metal mass was 98 g (range, 6–222 g). Subject ages ranged from 13 to 65 years and the mean body mass index was 25 kg/m2 (range, 15–32).
Results. Ex vivo, the AMD did not detect any instrumentation individually or in combination up to a titanium mass of 215 g. The HHMD detected all instrumentation at a distance of 5 cm, with the minimum mass being 2 g. No implants were detected in patients by the AMD.
The HHMD did not detect any anterior lumbar or thoracic surgical implants. It detected anterior cervical implants. The HHMD detected all posterior surgical implants. There was no significant relationship between detection rate, body mass index, total metal mass, and metal density/segment.
Conclusion. AMDs do not detect modern spinal implants. HHMDs detect all modern posterior spinal implants; this has implications for patient documentation.
© 2012 Lippincott Williams & Wilkins, Inc.
 
Spine:
15 November 2012 - Volume 37 - Issue 24 - p 2011–2016
doi: 10.1097/BRS.0b013e31825aeccf
Health Services Research
 

sábado, 10 de novembro de 2012

O Neurocirurgião e o Astronauta

Sobre ciência x religião: "certa vez um astronauta e um neurocirurgião conversavam, sendo que o primeiro era ateu e o segundo cristão. 'Vivo a viajar pelo espaço e nunca vi nem Deus, nem os anjos', disse o astronauta. O neurocirurgião respondeu: 'Já operei muitos cérebros inteligentes e também nunca achei nenhum pensamento'". Retirado do livro O Mundo de Sofia.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Poema do cirurgião - parte 2

 
POEMA DO CIRURGIÃO - PARTE 2
 
Movimentos com decisão
Sem dúvidas em sua razão
Aspirador a lhe dar caminho
E um bipolar na outra mão
 
Não sente nem sede nem fome
Concentração é a sua fonte
Enquanto as horas se consomem
Deus trabalha na mão do homem
 
Coagula os pequenos vasos
Amarra bem forte os mais largos
Seu campo é limpo e arrumado
E pensa nos próximos passos
 
Segue firme em sua batalha
Sem fazer questão de mais nada
Aos poucos o tumor se acaba
E assim termina sua jornada
 
Com uma gaze no leito tumoral
Confere se sangra o tal local
Repõe a peça fornto-orbital
E agradece ao seu pessoal
 
Retira a luva e o avental
E descreve o seu autoral
Diz um adeus bem gestual
E bem discreto deixa o local
 
Diz-se que é bem sucedido
Ou até mesmo muito sabido
Mas nem todos ali sabiam
Que da ciência ele havia bebido
 
Autor: Dr. Bernardo de Andrada - neurocirurgião

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O Drama Que Se Repete - Queda de Moto


-        Doutor, posso ver meu filho? - perguntou o senhor com aparência séria e voz calma.

-        Agora não é um bom momento, estamos correndo para levá-lo à cirurgia. Além do mais o rosto dele está muito machucado. - respondeu-lhe o médico, que logo em seguida pediu licensa.

-        Salva ele, só tem 22 anos, é um irresponsável, vou dar-lhe uma bronca quando chegar em casa.

 Aquele homem saiu caminhando em direção à porta silenciosamente mexendo em um telefone celular. O doutor então entrou na sala de trauma e virou-se para a sua equipe:

-        Tudo pronto? Podemos suibr? Um frasco de manitol na veia em bolus e chamem o elevador, vamos correndo para o centro cirúrgico.

-        Boa sorte Doutor – gritou o bombeiro que havia feito o resgate – Posso lhe contar uma coisa? Ficou a marca da cabeça dele na mureta, nunca vi isso.


            Deixou a sala de emergência pensando se tinha tomado a atitude correta ao não permitir que o pai visse o filho, no fundo ele queria poupá-lo de ver aquela cena. O rosto do jovem encontrava-se em um estado lastimável. As múltiplas fraturas na face lhe davam o aspecto de uma noz quebrada, era possível ouvir o barulho do ranger dos ossos ao manipular sua cabeça. Os olhos estavam inchados e roxos, em sua boca um tubo número 8,5 lhe conectava ao ambú que o enfermeiro apertava ciclicamente para ventilar oxigênio em altíssimas concentrações. Sua pele estava azulada, cianótica devido ao mau funcionamento dos pulmões. Sua cabeça encontrava-se enrolada em um turbante de crepom empapado de sangue que escorria pela maca, além é claro do forte cheiro de cerveja que exalava e tomava conta do ambiente.

            Os detritos de asfalto lhe sujaram todo o corpo e sua roupa encontrava-se rasgada. O impacto havia lhe arrancado os tênis e uma enorme marca de pneu precedia a cena do acidente. No local a motocicleta retorcida encontrava-se a algumas dezenas de metros distante daquele corpo agonizante.

            Ao entrar no centro cirúrgico, o médico sabia que era quase impossível salvar aquela vida. Além do gravíssimo traumatismo craniano também cursou com severa injúria torácica. Seus pulmões haviam sofrido sérias contusões, o que por sua vez dificultava a oxigenação e piorava ainda mais o edema no cérebro. Saturava a 60% durante toda a cirurgia e no tubo orotraqueal era frequente a saída de coágulos.

            Apesar de cansado do plantão noturno e de ter admitido o então paciente ao final da madrugada, o cirurgião estava bem concentrado e queria muito ajudar aquela vítima. Agia rapidamente e era sagaz em seus movimentos, sabia que cada segundo era precioso. Terminava de  fazer a craniotomia quando por um segundo olhou pela janela, o sol começava a surgir e olhar para dentro da sala. O ar condicionado esfriava bastante o ambiente e no rádio o locutor começava a dar bom dia em baixo volume, nenhuma outra voz era ouvida a não ser o motor da freza. De repente o silêncio foi rompido pelo anestesista:

           -        Bradicardia...- mais alguns instantes de silêncio e... - Parou!!! O paciente parou!!! Vamos massagear... Adrenalina e desfibrilador!!!

            Os dois anestesistas tentavam reverter aquela parada cardíaca. O entra e sai das enfermeiras e auxiliares a ajudar na reanimação era constante, mas aquela altura já era cada vez mais remota as chances de sobrevivência...

            Alguns minutos depois em uma sala localizada no setor de emergência.

            -        E então doutor... como está meu filho?

-        Senhor, o cérebro estava muito inchado e machucado, sangrava bastante, ele teve uma parada cardíaca durante a cirurgia e...

-        Pare doutor, por favor pare! Não precisa continuar. Meu filho morreu , né?

-        Infelizmente!
           
            -        Eu quero ver.

            Sentindo-se na obrigação de cumprir o que o havia prometido há algumas horas atrás, o cirurgião permitiu que aquele senhor entrasse.

-        Por favor, me acompanhe.
 
            Pensava como aquele senhor era forte, uma muralha. Não havia derramado uma lágrima sequer ou expressado desespero. Caminharam juntos até a escada, no subsolo atravessaram um longo e silencioso corredor. Em uma sala havia um funcionário dormindo.

         -        Por favor, abra para nós a porta do necrotério.

            Ao entrar na sala avistaram logo próximo a porta uma maca com um saco preto em cima. Entraram e silenciosamente o médico abriu o zíper exibindo-lhe o rosto do filho. Dessa vez estava sem poeira de asfalto, os olhos menos inchados e o roxo sob os olhos mais ameno. O turbante que o enrolava a cabeça estava limpo, as narinas estavam tampadas com algodão e não havia sangue sobre a pele e nem tubos o invadindo. Nesse momento, a fortaleza daquele senhor foi duramente atingida e foi ao chão. O desespero tomou-lhe a face e as lágrimas vieram junto com um forte grito:
 
           -        NÃO

            Ao deixar o plantão, o médico o fez com a consciência tranquila. Sabia que havia feito de tudo e que aquele era um daqueles casos onde a gravidade do caso mostra que na medicina não há milagres. Porém uma dúvida estava a lhe perturbar a cabeça, se havia tomado a decisão certa ao evitar que o pai visse o filho em condições precárias logo assim que foi admitido no hospital. Mas de uma coisa ele tinha certeza, aquele caso nunca deixaria a sua memória. 

Dr. Bernardo de Andrada

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Poema do Cirurgião


Passa o dia no centro cirúrgico
Sem fazer questão de luxo
Só querendo dar o impulso
Pra natureza seguir seu fluxo

Feliz de quem pode tratar
Aconselhar e remediar
E se precisar cirurgiar
Com coragem vai encarar
  
Conhece a fundo a anatomia
E a linhagem da neoplasia
Se um pouco sangra sua cirurgia
Quebra assim a monotonia

Prático e sempre obejtivo
Evita ao máximo ser emotivo
Se frente um caso mais altivo
Logo se torna pensativo

Luta sempre contra a vaidade
E procura pela humildade
Mas bem no fundo ele sabe
Seu trabalho é obra de arte


Autor: Dr. Bernardo de Andrada 

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Brainstem Surgery


A few days ago I could watch a famous neurosurgeon doing three followed and identic surgeries. With an audience of doctors to watch, he left a room and entered another where everything was ready for him, including the approach. He had Spent average ten minutes in each one and successfully  removed  three cavernomas of medulla oblonga (kind of tumor of veins that can lies any part of our brain and other organs). In those cases, the lesions were located in the most noble part of our body, the brainstem. Although of living in neurosurgery environment for five years, I have never seen anything similar before. While he was handling the tumor, all of us were breathing carefully and too concentrated, there was no safety margin. After finished the last one, he thanked all and left the room to continue his life.
While it was happening, there was three commom people like us, maybe a lawyer, basketball player or bus driver, that unfortunatelly was the patient in that moment and was sleeping deeply due to one of the most important discovery of the humanity, the anesthesics. If these people had a little bit knowledge from neuroanatomy of Dr. Rothon or neurophisiology I really do not know if they dare to lie down there.
Undoubtedly in surgery world, is not anyone that has skills to handle safely with this sort of lesions. Where is located the control of all our vital functions, through it passes all the sensory and motors pathways, hosts the center of control of breathing, cardiac rate, blood pressure, part of the chewing, speech, swallowing, hearing pathways, control of ocular motility, motor coordination and maintenance of wakefulness. We should thank it for we are awake, there are a structure called reticular formation that is responsible for the maintenance of our wakefulness. Once I read in an anatomy book that the brainstem is the part of central nervous system that had more neurological function concentrated in the less volume. No wonder that nature protected it surrounded by bones, among them the hardest and most solid of all, the petrous portion of temporal bone, the name came from the similarity with the firmness of a stone and so it is also known as rock .
If you propose to handle the núcleus, the core of a person, it would be courage added confidence, the conflict of the security with audacity plus knowledge with a couple of prudence and responsibility. You have to concentrate your thoughts on the technique and momentarily forget the risks and all past and future that exist around that patient. You have to put the whole weight of your body upon years of study of anatomy and physiology and don't let the fear make difference on this seesaw. Moreover, the most important when we propose to do a surgery of this size is respect for the others' lives, more than that, respect for the patient, who are naked of distrust.
Might the most ancient Greek philosophers in the fifth century before Christ know all this concentration of functions and importance within a single structure? Might it be involved in the answer of "the one big question" of what constitutes reality and existence? Overall, if I could summarize the fact of being alive in just one word undoubtely would be the brain stem, since damaged it integrity is no more reality or existence.

Bernardo de Andrada

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Cirurgia no Tronco Cerebral


Esses dias assisti um famoso neurocirurgião fazer três cirurgias seguidas iguais. Com uma plateia de médicos a assistir, ele saía de uma sala e entrava na outra onde já estava tudo pronto, inclusive o acesso, esperando ele para brilhar. Gastando em média dez minutos em cada ele conseguiu remover com sucesso os três cavernomas (uma espécie de tumor de veias que pode ocorrer em diferentes áreas do cérebro e outros órgãos). Nestes casos, as três lesões se localizavam na área mais nobre do nosso corpo, o bulbo, parte do tronco cerebral. Há cinco anos vivendo neurocirurgia ainda não tinha visto algo parecido. No momento em que ele manipulava delicadamente a lesão o silêncio pairava na sala e o nível de concentração de todos era o máximo, não havia margem de segurança nem de milímetros sequer e, durante o procedimento os presentes sentiam até medo de respirar mais fundo. Ao fim da terceira e última ele agradeceu a todos pela colaboração e saiu para continuar sua vida.
Enquanto tudo isso acontecia havia três pessoas comuns como todos nós, seriam elas um advogado, jogador de basquete, motorista de ônibus ou qualquer outra profissão, mas que por azar ou outro motivo qualquer, naquele momento eram os pacientes e estavam dormindo profundamente sem saber de nada graças ao efeito de uma das maiores descobertas do homem, os anestésicos. Se esses mesmos sujeitos já tivessem antes na vida mergulhado nas profundezas dos livros de neuroanatomia do Dr. Rothon ou se tivessem uma breve noção de neurofisiologia, não sei se teriam coragem de deitar naquela mesa cirúrgica.
Mas com certeza em cirurgia existe um termo que faz toda a diferença: a “mão”. Não é qualquer um que tem “mão para mexer no tronco cerebral”. Sede do controle de todas as funções vitais do nosso corpo, nele também passa todas as informações produzidas ou processadas pelo nosso cérebro. Comporta em sua anatomia todas as vias sensitivas e motoras além de abrigar o controle da respiração, batimentos cardíacos, pressão arterial, boa parte da mastigação, fala, deglutição, vias auditivas, controle da motilidade ocular, coordenação motora e manutenção da vigília.  Devemos o fato de estarmos de olhos abertos e conscientes a ele já que comporta dentro de si a formação reticular, estrutura que nada mais nada menos nos mantém acordados. Certa vez li num livro de neuroanatomia que essa seria a estrutura que mais concentrava funções neurológicas dentro de um menor volume, ou seja, a mais densa do sistema nervoso central em termos de funções. Não é a toa que a natureza o protegeu cercado de ossos, dentre eles o mais duro e consistente de todos, a porção petrosa do osso temporal, o nome é justamente pela semelhança com a firmeza de uma pedra e por isso também é conhecido como rochedo.
Se propor a manipular a essência, o núcleo de uma pessoa, seria atrevimento somado a confiança, o conflito da audácia com a segurança, a soma da coragem com o conhecimento com um toque de prudência e responsabilidade. É você poder concentrar seus pensamentos no tecnicismo e esquecer momentaneamente dos riscos, de todo passado e futuro que existem ao redor daquele paciente. É depositar todo o peso do seu corpo em cima de anos de estudo de anatomia e fisiologia, sem deixar que o medo faça diferença nessa gangorra. Além de tudo isso, o mais importante quando se propõe a fazer uma cirurgia desse porte é o respeito à vida alheia, mais do que isso, o respeito ao paciente que se despiu da desconfiança e se entregou, como se fosse uma mercadoria, a uma loja de consertos sem saber o que vai ser feito lá dentro.
Saberiam os antigos filósofos gregos no quinto século antes de Cristo de toda essa concentração de funções e importância dentro de uma só estrutura? Estaria ela envolvida na resposta da grande pergunta, do que se constitui a realidade? Do que se constitui a existência? Enfim, se pudesse resumir o fato de estar vivo em uma só palavra sem dúvidas seria tronco cerebral, uma vez que danificada sua integridade não existe mais realidade nem existência.

Bernardo de Andrada

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Crônica do Hospital Público


Há alguns anos em um hospital público qualquer...

“- Por favor, chamem o maqueiro para descer o paciente para o tomógrafo, já está tudo pronto, respirador de transporte, bala de oxigênio e bomba infusora, só falta ele”, gritou a enfermeira. 

“-Já chamei há mais de dez minutos, não vou ligar novamente não.” Respondeu uma voz no meio da unidade.

“-Ok, deixa que eu mesmo ligo. Se eu não fizer as coisas aqui ninguém faz”.

Dez minutos depois ainda estavam todos a esperar o funcionário do transporte quando adentra ao CTI um sujeito de aproximadamente 65 anos, cabelos brancos, fácies bem envelhecida, bermuda jeans, chinelo havaiana, camiseta regata do Flamengo e boné vermelho. Imediatamente o mesmo foi interpelado.

“-Senhor, nessa unidade não é permitido a entrada de pessoas que não trabalham aqui, apenas no horário de visita, o senhor por favor queira se retirar”.

“-Como assim? Acabaram de me chamar aqui”, responde o sujeito.

“-Como assim digo eu, quem é o senhor? Vou chamar agora a segurança do hospital.”

“-Senhora, eu sou o maqueiro”...

Num primeiro momento esse diálogo poderia soar algo ridículo. Como poderiam permitir um sujeito trabalhar nesses trajes dentro de um hospital, ainda mais dentro de uma UTI. Esse certamente é o pensamento da maioria das pessoas que leem esse diálogo, mas para enxergar essa situação de outro ângulo é necessário alguns anos de experiência dentro dessas unidades.
Na realidade, esse maqueiro única e exclusivamente podia trabalhar nos trajes que ele quisesse, inclusive até de sunga. Acredito que as pessoas devem estar se perguntando o porquê, seria ele tão bom assim ao empurrar aquelas macas com rodinhas emperradas a ponto de ter toda essa liberdade? A resposta é não.  Era tão competente quanto os outros, mas havia uma diferença, ele já estava aposentado há alguns anos e, depois de 30 anos de suor diário naquela unidade, havia voltado para trabalhar voluntariamente, sem receber sequer um centavo. E pasmem, não possuía mais o cartão que o dava direito a almoçar no refeitório oficialmente, mas as funcionárias da cozinha sempre reservavam um bom prato para que ele comesse depois que o horário do almoço acabasse afinal, todos sabiam da sua condição. O fato é que se ele não tivesse ali naquele momento, o paciente iria esperar mais alguns minutos para descer para o tomógrafo pois os outros maqueiros estavam todos ocupados.
Depois de 30 anos trabalhados naquele ambiente, seria prudente que ele gastasse todo esse dinheiro da aposentadoria em viagens com a família. Mas que família? Que aposentadoria? Apesar de morar ao lado do hospital, ele queria era ficar ali trabalhando pois tinha comida boa pronta todos os dias no famoso bandeijão, amigos para discutir na segunda-feira os resultados do Campeonato Brasileiro e do jogo do bicho, tomava sua cervejinha no bar ao lado ao final do expediente, tratava sua hipertensão arterial e diabetes com um doutor do ambulatório de clínica médica e pegava os remédios na própria farmácia do hospital. Estava programando sua cirurgia de hérnia inguinal com a equipe de cirurgia geral e, sua esposa havia operado um aneurisma cerebral e também colocado uma válvula (DVP) há alguns anos com a neurocirurgia, a qual era muito grato. Ela, apesar de ter se recuperado bem, ainda usava o Hidantal e dependia da ajuda do marido.
Enfim, é difícil resumir em algumas frases o que se leva anos para aprender: o que é o espírito do hospital público. Um local onde as pessoas nem sempre tem uma condição de trabalho adequada, mas o abraçam e o tomam para a sua vida.

Bernardo de Andrada

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Mobile, smartphones and Medicine


Sometimes I realize I’m thinking about what Chacrinha (one of the biggest brasilian TV presenter dead in 1988) would do in the age of mobile technology. Certainly Chico Science (Famous brasilian singer dead in 1997) would post your ideas on facebook and twitter. No shortage of speculation about the future, or rather about the present when we are talking about the internet technology. Moreover a hacker from north american said that the smartphones are government tool for spying, giving up older expensive devices.
Regardless of discussions among TV presenters, hackers and singers, the communication revolution, specifically when we talk about social media and smartphones, is very usefull in medicine. They are bringin online and real-time current opinion and also facilitate communicating among members of staff and improving the approach to the patients. Besides the discussion at real-time of controversial cases in scientifical fóruns on social media are making diagnoses and treatment easier.
The communicate between staffs, residents, fellows and chief, and also nurses and another members of multidisciplinary team could be easier through e-mail groups where you can write reminder and pending, as well general information. The Facebook and LinkedIn can bring union between persons and can host fóruns where we can talk to colleagues from another countries and discuss our more difficult decisions. Nowadays the surgeon capture the image of CT scan and share with doctors from all over the world. The LinkedIn is a network, more usefull when we are talking about job opportunity, indication and Professional reference. Recently, the world had the first brain surgery, transmitted in social media on the United States and was watched for about 14 million people amongst doctors and general people. Today we have a chance to share a vídeo of our surgeries with another doctors and get other opinions, improving the outcome.
When we are talkin about medical education, the mainly apps are twitter and RSS feeds. Through them is possible to sign and follow some journals and medical association and receive current papers, general news and informations about congresses and simposium.
Sharing pdf files, text and excel documents besides pictures and vídeos with another members of team is possible thanks to “cloud” technology. Nowadays the resident elaborates an abstract and before submit to next congress, he shares with the staffs and chief to check if it’s correct. The main apps are DropBox and iClouds.
Although all this Technology and promises, the most important issue is the conscient use of this tools, bringing the better approach to the patient without his exposure. It’s essential to respect the privacy of the patients and medical ethics. If the doctors knows the perfect way to use this tools above, undoubtly the most benefited is just the patient.
“Computers make art and artists make money” (Chico Science)

Bernardo de Andrada

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Crônica da Residência em Neurocirurgia


Depois de quase cinco anos completos frequentando assiduamente centro cirúrgico e enfermaria de neurocirurgia em certo hospital público da cidade do Rio de Janeiro, posso considerar que amadureci muito em vários aspectos, tanto pessoal e emocional como técnico e científico. Ainda não cheguei à conclusão se esses anos demoraram muito ou se passaram muito rápido, mas no meio deles, tenho a certeza que vivi “hospital público” o equivalente a mais de dez anos, cada ano valendo por dois ou mais, já que passei por todos os tipos de situações e, principalmente, aprendi a me virar sozinho. Dentre todas essas situações, é claro que uma porcentagem das mais inusitadas da minha vida está inclusa.
Confesso que tendo a oportunidade de escolher entre grandes e tradicionais hospitais públicos da antiga capital federal, que concentram suas forças em cirurgias eletivas, com certo medo optei por um com uma grande emergência aberta. Lá as salas eletivas eram disputadas quase a tapas e bate-bocas entre os cirurgiões de diversas especialidades, assim como as cirurgias de emergência que não paravam de brotar porta adentro.
Na faculdade, sempre ouvia muito falar que na época da residência, o que mais importava ao cirurgião era as “horas de vôo”, ou melhor, “horas de centro cirúrgico”, e que, um hospital com um volume cirúrgico alto seria assim o modelo de residência. Demorei a crer nisso e ainda acho que cabem ponderações, de fato aprendi assistindo bons cirurgiões que a experiência não tem como se ganhar num curso, num livro ou num slide do power point, e que, ela é sim, um diferencial que não são todos que a obtém.
A experiência no entanto não é uma ferramenta útil quando não se sabe o que existe por trás de cada estrutura anatômica. Em cada curso que frequento, percebo que quanto mais estudo menos anatomia eu sei e que, a sensação que tive que esta seria uma ciência limitada é ledo equívoco, é simplesmente infinita. Senti falta de aulas práticas de anatomia em peças, de um professor doutor dissecando cadáveres comigo e de um laboratório de microcirurgia para explorar os espécimes. Enfim, valeria escolher a experiência e abdicar da teoria mastigada? Não haveria uma maneira de fazê-los coexistirem?
Escolha feita o que resta é mergulhar na prática e nadar como se fosse uma criança em uma piscina de clube de verão. Descobri que a teoria e a prática, na prática, se retroalimentam através de um cabo que se chama CURIOSIDADE. O que via acontecer sob os campos operatórios, me deixava faminto para abrir o atlas de anatomia e saber o que havia ali por trás, saber como havíamos chegado até ali e se mexêssemos em tal estrutura o que ocorreria. Enfim descobri porque os curiosos são pessoas no mínimo diferentes e deixei de nos ver como possuidores de um defeito, e sim, de uma qualidade que impulsiona o estudo e engorda o conhecimento.
 Naveguei alguns anos pela prática do SUS, desde ressucitações cárdio pulmonares na calada da noite, inúmeras intubações orotraqueais, trepanações manuais e drenagem de hematoma subdural crônico em mais de um paciente no meio da madrugada. Depois passei a frequentar as eletivas e ganhei espaço como auxiliar de residentes mais velhos, fui observando toda a movimentação das mãos e a verdadeira dança dos dedos dos cirurgiões mais antigos, adquirindo experiência gradativamente e ganhando coragem para construir minhas primeiras artrodeses, verdadeiras obras como meus olhos as viam e admiravam. Ao conquistar a dissecção das cisternas da base do cérebro me senti como um verdadeiro mergulhador explorando e descobrindo as belezas das profundezas da neuroanatomia.
Atualmente vejo os novos residentes e me vejo há 5 anos atrás, cheios de dúvidas e incertezas quanto à escolha feita para o local do treinamento. Como diriam os antigos, “quem faz a escola é o aluno”, sendo assim concluo que eu fui um bom aluno. Ao terminar cada aventura no centro cirúrgico, já que considero cada cirurgia uma experiência única, mesmo que seja em patologias idênticas, consigo colocar o pé no chão, olhar para trás e saber que valeu a pena cada hora de sono perdida, cada minuto de fome passado, cada bronca engolida a seco e cada fio de cabelo branco que me surgiu. Eu olho no espelho o considero os pequenos fios brancos verdadeiros calos desse período, mas que podem ser interpretados como marca de um GUERREIRO, que todo RESIDENTE de NEUROCIRURGIA tem que ser. Fernando Pessoa tinha razão quando disse que tudo valia a pena para os que tinham alma grande.

Bernardo de Andrada

segunda-feira, 11 de junho de 2012

BLOG DO NEUROCIRURGIÃO JOVEM

O termo "Neurocirurgião Jovem" define os médicos que já terminaram a residência em neurocirurgia e possuem menos de 35 anos, portanto, uma considerável parcela de "neurocirurgiões jovens" desembocam no mercado todo ano, geralmente sedentos por produzir conhecimento científico e cheios de disposição para trabalhar. Através deles é concretizada uma boa parte do intercâmbio neurocirúrgico mundial, visto que muitos optam por fellows em outros países e geralmente retornam à sua nação de origem levando consigo novos conceitos. Constituem uma peça fundamental no processo de aprimoramento das técnicas operatórias e, por esse motivo, resolvi mudar o nome para "BLOG DO NEUROCIRURGIÃO JOVEM", visto que nesse espaço pretendo falar sobre novidades e tecnologia em neurocirurgia além de neurociências em geral, sendo também uma homenagem à essa classe.

Bernardo de Andrada

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Mobilidade, redes sociais e medicina

As vezes me flagro pensando o que será que o velho Chacrinha estaria aprontando na era da tecnologia da comunicação móvel. Com certeza o Chico Science estaria divulgando suas idéias e seu som pelo twitter, blog e facebook até porque naquela época já havia previsto os dias atuais. Não faltam especulações sobre o futuro, ou melhor, o presente, quando o assunto se trata de tecnologia, inclusive, um hacker americano chamado Christopher Soghoiane afirma que os smartphones são fomentados pelos governos por se tornarem uma ferramenta barata e fácil de espionagem, dispensando assim aparatos complexos e caros.
Discussões entre hackers, artistas, músicos e comunicadores à parte, a revolução na tecnologia das telecomunicações, especialmente no que diz respeito ao uso de smartphones e das redes sociais, vêm sendo muito útil para a área de saúde, especificamente na medicina. Vêm contribuindo para atualização científica constante e imediata, além de estreitar a comunicação entre membros da equipe médica facilitando a logística do atendimento e funcionamento dos serviços. Outra novidade é a discussão de casos cínicos em fóruns científicos facilitando o raciocínio diagnóstico e a conduta terapêutica.
A comunicação entre staffs, residentes, fellows e chefe, incluindo também enfermeiros e equipe multidisciplinar, pode ser facilitada através de grupos de e-mail possibilitando lembretes e pendências, além de informativos gerais. O uso do Facebook e LinkedIn pode aproximar os laços pessoais entre os membros da equipe, além de hospedar fóruns onde é possível discutir casos clínicos com colegas de outros países e ter ajuda na decisões de conduta em situações mais controversas. Atualmente o cirurgião entra no seu consultório, captura a imagem da tomografia no negatoscópio através do seu smartphone e discute o caso quase que instantâneamente com colegas de todos os quatro cantos do mundo. O LinkedIn trata-se de um network,  mais lembrado quando o assunto é uma oportunidade de emprego, uma indicação ou referência profissional. Recentemente, ocorreu a primeira cirurgia transmitida ao vivo por uma rede social nos Estados Unidos e atingiu pouco mais de 14 milhões de expectadores entre médicos e público em geral. A possibilidade de obter vídeos de cirurgias e os compartilhar com colegas que possam opinar e criticar influencia ativamente no resultado positivo da operação.
No quesito atualização médica continuada os principais aplicativos utilizados nos smartphones  são o twitter e os RSS feeds, ferramenta muito utilizada em blogs para receber atualizações. Através deles é possível o usuário seguir ou assinar determinadas entidades como por exemplo perfis de periódicos e receber abstracts e artigos científicos recém publicados em seu celular. É possível também seguir o perfil de uma sociedade médica, receber informativos e notícias sobre eventos, encontros, congressos, simpósios, reuniões e eleições entre outras.
O compartilhamento de fotos de exames, documentos de texto do word e pdf, planilhas do excel, escalas e arquivos em geral também é possível em tempo real. O residente elabora um resumo científico e através do iPhone o disponibiliza para todos os staffs conferirem antes de submeter para o próximo congresso científico. Isso é possível graças à tecnologia do armazenamento virtual, os arquivos ficam disponíveis na chamada “nuvem” através da criação de uma conta em sites como, por exemplo, o DropBox.
Dentre todas essas tecnologias, penso que o equilíbrio pessoal para seu uso e exploração seja ideal apenas para extrair benefício, sem causar danos aos pacientes como, por exemplo, expô-los. É fundamental sempre ter em mente a preocupação de preservar a privacidade e respeitar o código de ética médica que, inclusive recentemente publicou atualizações de normas para o uso de tais ferramentas. Sem dúvidas, o principal beneficiado do bom uso por parte dos médicos da mobilidade e redes sociais, sem dúvidas, será o paciente.
Creio que nos dias de hoje, um médico inteligente e, com todos os aparatos de comunicação disponíveis, jamais iria se “estrumbicar” como diria o velho Chacrinha.
“Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro” (Chico Science).

terça-feira, 29 de maio de 2012

Memórias


Na próxima sexta-feira, dia primeiro de junho, completará um mês do falecimento súbito e completamente inesperado de um colega de trabalho, o Dr. Armando da Glória Júnior. Neurocirurgião chefe do serviço do Hospital Municipal Salgado Filho há um ano e major do Corpo de Bombeiros, o Dr. Armando nos deixou de uma maneira muito repentina.
Nascido em uma família humilde em Acari, subúrbio do Rio de Janeiro,  o Dr. Armando lutou contra as adversidades da vida, como a falta de recursos e a perda de seus pais, e venceu. Formou-se em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez residência em neurocirurgia no Instituto de Neurologia Deolindo Couto, tornou-se mestre também pela UFRJ, foi aprovado em concursos públicos, trabalhou duro e construiu uma família. Teve dois filhos e conseguiu lhes dar a oportunidade de estudar em uma das, senão a melhor, instituição de ensino básico da cidade. Há um ano havia assumido a chefia do serviço de neurocirurgia do Hospital Salgado Filho, no Méier, serviço com nome de peso e vinha fazendo grande parte das cirurgias eletivas daquele hospital. Sempre com bom humor, conseguia deixar o ambiente descontraído no meio de tanto trabalho e tantas dificuldades que o sistema público de saúde oferece. Passamos algumas madrugadas em claro ocupados em cirurgias de emergência e os bons resultados, eram sempre comemorados com muita vibração por ele. Cultivava a amizade e o bom relacionamento com os colegas de trabalho e era assumido apreciador das coisas boas da vida, como uma boa cozinha e um bom vinho. Possuía uma sonora gargalhada que era possível se ouvir do elevador, antes de se chegar ao corredor do andar, e se estivesse no centro cirúrgico todos sabiam porque era impossível não ouvir sua voz. Marcado pela sua religiosidade e crença, valorizava muito a família, a qual todos conheciam muito bem pois vivia a falar dos filhos e sempre carregava consigo uma boa coleção de fotos. Desencarnou com a certeza que contribuiu para a formação de algumas dezenas de neurocirurgiões que estão espalhados pelo Brasil.
Foto gentilmente cedida por Dr. Doutel de Andrade (tirada em 09/12/11 na Estrela do Sul, Recreio dos Bandeirantes).

sábado, 26 de maio de 2012

Experiência temporal

     Hoje pela manhã, estava fazendo meu café e por um breve momento senti um cheiro de tempero refogado vindo da casa do vizinho e lembrei imensamente da cozinha da minha Vovó Nair, há aproximadamente 13 anos atrás. Parecia que eu estava lá e o ambiente foi reproduzido com detalhes no meu cérebro, por um instante me senti como se estivesse presente no local há mais de dez anos. Apesar da vontade de continuar lá e explorar o ambiente guardado de maneira intacta na minha memória, a realidade da lembrança foi aos poucos se desfazendo, se perdendo e rapidamente se desmanchou e se foi pela janela junto com o cheiro de tempero. Uma experiência simplesmente impressionante sem utilizar nenhuma "máquina do tempo" para isso, apenas as ferramentas que já nasceram conosco e estão guardadas nas profundezas da nossa neuroanatomia. Impressionante o poder que a nossa mente tem de viajar no tempo quando impulsionada por um estímulo sensorial, como por exemplo o olfato nesse caso, mas poderia ser também uma música. Sem dúvidas um cheiro, um perfume, uma comida ou até mesmo um odor, nos remete com imensa realidade à alguma lembrança, talvez pela proximidade da área que o olfato é processado com o nosso lobo límbico no cérebro.  Isso me faz refletir sobre a fisiologia do nosso sistema límbico e do circuito ou formação de Papez. O circuito é atribuído à Papez, descrito em 1937 e formado por algumas estruturas do nosso sistema nervoso central que estão diretamente envolvidas em experiências emocionais e entre elas destacam-se o hipocampo e amígdala, ambos localizados no nosso lobo temporal, assim como o giro do cíngulo, tálamo e hipotálamo. Uma vez recebendo informações sensoriais, como por exemplo um estímulo olfativo, somos capazes de resgatar fácil e surpreendentemente na nossa formação hipocampal do lobo temporal do nosso cérebro, experiências passadas armazenadas como memória de longo prazo com riqueza de detalhes. Certamente se quisesse parar um dia, me concentrar e revirar meu lobo temporal atrás dessas lembranças remotas não conseguiria, portanto, nada como um boa experiência olfativa para lhe apresentar emoções diferentes e mudar um pouco o seu dia... Saudade daquela lasanha que nunca mais encontrei nem parecida, obrigado ao meu cérebro por me permitir essa experiência !!!