domingo, 24 de maio de 2015

RESUMO DA RESIDÊNCIA: FORMAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DO TUBO NEURAL

Esses dias estava revirando meu HD externo com alguns arquivos que guardei da época do início da residência médica em neurocirurgia, lembro que na época meu chefe me cobrava um resumo todas as  quartas sobre um tópico do programa da residência da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). Resolvi publicar esses resumos em uma série para o pessoal que está cursando faculdade de medicina e está se interessando pela área de neurologia e neurocirurgia. Para melhor iniciar a série escolhi a área que inicia a vida, a embriologia, o tema inicial não poderia ser outro senão a formação e diferenciação do tubo neural. Um abraço!

FORMAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DO TUBO NEURAL

            O Sistema nervoso é originado do ectoderma, o folheto embrionário que está em contato com o meio externo. O primeiro indício da formação do sistema nervoso central consiste em um espessamento do ectoderma acima da notocorda, formando a chamada placa neural, induzida pela presença da notocorda e do mesoderma. Da placa neural, surge um sulco longitudinal, o chamado sulco neural, que se aprofunda para formar a goteira neural, que então se fecha dando origem ao tubo neural. Em cada lado do tubo neural, desenvolvem-se células que dão origem à uma lâmina longitudinal chamada de crista neural. O tubo neural dará origem ao sistema nervoso central, enquanto a crista neural dará origem ao sistema nervoso periférico e elementos não pertencentes ao sistema nervoso.
            A face interna do tubo neural não é uniforme, sendo chamada cada parte diferente de lâmina. Há duas lâminas alares, duas lâminas basais, uma lâmina do assoalho e uma lâmina do tecto. Nas lâminas basais diferenciam-se os neurônios motores, nas lâminas alares os prolongamentos dos neurônios sensitivos derivados dos gânglios espinhais, a lâminas do tecto da origem ao epêndima e plexos corióides e a lâmina do assoalho forma o sulco médio do assoalho do IV ventrículo.
            As dilatações do tubo neural também são heterogêneas, a parte cefálica torna-se dilatada formando o arquiencéfalo, a parte caudal permanece com calibre uniforme e constitui a medula primitiva do embrião.
            O arquiencéfalo, que dará origem ao encéfalo do adulto, se divide inicialmente em três dilatações: prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo. O prosencéfalo dá origem a duas vesículas, o telencéfalo e o diencéfalo. O telencéfalo dá origem a duas vesículas encefálicas laterais que crescem e darão origem aos hemisférios cerebrais do adulto. O diencéfalo se divide em quatro pequenos divertículos: dois laterais, que darão origem às retinas, um dorsal, que dará origem à glândula pineal e um ventral, que dará origem à neuro-hipófise.
            A luz do tubo neural permanece no adulto, a luz da medula primitiva forma o canal central da medula, também chamado de canal do epêndima, que no homem adulto e muito estreito e parcialmente obliterado. A luz do rombencéfalo dá origem ao IV ventrículo, a do mesencéfalo permanece estreita dando origem ao aqueduto de Sylvius, a do diencéfalo dá origem ao III ventrículo e a do telencéfalo forma os ventrículos laterais, um de cada lado, conectados ao III ventrículo através do forame interventricular ou de Monro. Todas essas cavidades são revestidas por um epitélio cuboidal denominado epêndima, e com exceção do canal do epêndima, contêm o líquido cérebro-espinhal ou céfalo-raquidiano (líquor).

            O ritmo de crescimento heterogêneo do tubo neural dá origem a flexuras em seu tecto ou assoalho. A primeira é a flexura cefálica, entre o mesencéfalo e o prosencéfalo. Entre a medula primitiva e o arquencéfalo surge a flexura cervical, caracterizada por uma flexão ventral da cabeça do embrião. A terceira flexura é a pontina, na altura do rombencéfalo. Com o desenvolvimento do embrião, as duas flexuras caudais desaparecem permanecendo apenas a cefálica, que dá origem ao ângulo entre o encéfalo e o neuro-eixo no homem adulto.

Dr. Bernardo de Andrada



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