Muito me chamou atenção o
jovem de 15 anos que sofreu um TRM cervical durante um campeonato de Jiu-Jitsu
em Vitória, no Espírito Santo. Ele ficou tetraplégico imediatamente após o
golpe, ou seja, apresentou perda súbita das funções da medula espinhal. Este órgão consiste em uma espécie de “corda” que se localiza no interior da coluna vertebral e tem a
função de conectar o cérebro com o restante do nosso corpo. Infelizmente as lesões neurológicas durante a prática de esportes são mais frequentes do que se imagina.
Os traumas neurológicos como, por
exemplo, o traumatismo cranioencefálico e o raquimedular, são
muito comuns durante a prática de atividades físicas e suas causas são
variáveis. As principais são as quedas e choques corporais, mas também ocorrem
choques de objetos contra o crânio podendo causar traumas penetrantes,
lembrando o infeliz exemplo do nosso querido piloto Ayrton Senna que teve seu
crânio perfurado por um fragmento da barra de direção de seu carro. Os golpes
de artes marciais também estão inclusos nesse roll.
Durante a minha residência me
recordo de ter participado da cirurgia de um jovem também com trauma na coluna
cervical decorrente de um golpe de Jiu-Jitsu. Ele contou com a sorte e teve a
medula poupada, depois da cirurgia se recuperou e após um tempo voltou a lutar.
Já vi também outras lesões neurológicas durante a prática de lutas como hérnia de disco extrusa cursando com forte dor ciática.
Dentre as lesões neurológicas comuns
no esporte também merece destaque a concussão cerebral. Trata-se de um
desarranjo do funcionamento dos axônios da substância branca que causa alteração
súbita e transitória da consciência seguida de confusão mental,
cefaléia e vômitos. Além disso, é importante destacar a possibilidade de
sequelas leves porém comprometedoras da cognição como, por exemplo, dificuldade
de concentração e raciocínio (síndrome pós-concussão).
Há alguns meses postei nesse blog um jogador
que sofreu também um TRM cervical durante uma partida de futebol, no vídeo era
possível observar a exata cinética do trauma. Na ocasião o jogador permaneceu
neurologicamente intacto, ou seja, com movimentos e sensibilidade preservados.
Neste novo caso também podemos observar no vídeo o mecanismo da lesão durante o
golpe, uma hiperflexão com cabeça e corpo sofrendo vetores com sentidos opostos
culminando provavelmente em fratura de corpo vertebral com luxação. Nesse caso, infelizmente, com acometimento da medula espinhal e perda das funções neurológicas abaixo do nível da
lesão.
Dr. Bernardo de Andrada - neurocirurgião
Be.andrada@yahoo.com.br
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