Quando
criei esse blog havia decidido que não queria aqui ficar falando de política,
no entanto, decidi me expressar sobre a polêmica que já se arrasta há algum
tempo: a vinda de médicos de Cuba para atuar em áreas pobres onde os médicos
nacionais não teriam interesse.
Quando falamos de
médicos cubanos, a grande maioria das pessoas não sabe que tipo de
profissionais estamos falando, nem o povo, nem jornalistas, nem mesmo muitos de
nós médicos. Por essa curiosidade resolvi pesquisar na internet e tentei, da
forma mais imparcial que consegui, fazer um resumo.
Os médicos são a
principal matéria de exportação de Cuba, mas talvez um tipo de médico diferente
do que o Brasil está acostumado. Dispõem de 42.000 trabalhadores de saúde
atuando em missões internacionais sendo 19.000 médicos aproximadamente. O
programa de medicina humanitária cubana, como é chamado, começou em 1963 a
atuar em países de outros continentes, principalmente África e América Latina,
como parte da política anti-colonialista do governo cubano.
Esses
profissionais com anos de experiência, segundo o governo brasileiro, tem em seu
currículo um vasto histórico de atuação em situações de extrema necessidade ao
redor do mundo. Estiveram na independência da Argélia e muitos serviram na
artilharia cubana junto a soldados na Guiné-Bissau durante a guerra de
independência contra Portugal (por isso têm domínio da língua portuguesa). Uma
das maiores atuações desses profissionais foi em Angola, onde ocuparam quase
todo o país. Seguindo-se a isso, o programa estreitou fortes laços com a
Nicarágua sendo responsável pela assistência sanitária durante a época
Sandinista e com influências de um médico argentino que é bastante cubano,
Ernesto Guevara, o Chê. Sem falar da atuação dos doutores na Venezuela, onde foram
trocados por barris de petróleo enviados por Hugo Chávez à ilha caribenha. São
médicos com uma certa característica ideológica militar, e de fato, um
histórico de atuação em guerrilhas e áreas de conflito, estivessem participando
junto com tropas cubanas ou não.
São
conhecidos por missões humanitárias e têm mais de décadas de experiência em uma
espécie de ativismo político sanitário, esses médicos ganharam experiência sim
em lidar com adversidades, pois estão preparados para a guerra. Inclusive
tiveram presentes em locais devastados por terremotos como o Haiti e Cashemira,
além do Sri-Lanka após o Tsunami. Cuba ofereceu 1.500 médicos aos Estados
Unidos após a cidade de New Orleans ser devastada pelo furacão Katrina, porém a
ajuda foi recusada por Obama por conta do histórico embargo diplomático entre
os dois países. Em Honduras obtiveram significativo impacto na redução da
mortalidade infantil. De 1963 a 2004, Cuba participou da criação de nove
escolas de medicina pelo mundo, são elas:
Yemen, Guiana, Etiópia, Guiné-Bissau, Uganda, Gana, Gâmbia, Guiné
Equatorial e Haiti.
Apesar de declararem que
a vontade e o objetivo de salvar vidas e melhorar as condições humanas são
absolutamente alheios a política, são conhecidos pelo mundo afora como os
vetores da ideologia cubana para os outros países. Carregam em si culturalmente
a ideologia revolucionária de Fidel Castro, uma espécie de militância. Um dos
carros-chefes do programa em seus primórdios, e que até hoje se mantêm, é a
expansão da cultura e dos ideais do país, além de ter forte papel na diplomacia
do mesmo. São defensores do humanitarismo internacional e continuam recebendo o
mesmo salário que sempre receberam em sua nação. Na Venezuela, políticos
opositores chamaram os médicos cubanos de “embaixadores de Fidel” e estimularam
a população a boicotá-los.
É importante lembrar que
é frequente a deserção desses médicos como ocorreu no Zimbábue, na ocasião dois
deles foram presos e deportados ao tentarem embarcar rumo ao Canadá. Há relatos
também de doutores que desertaram rumo aos Estados Unidos e, contaram na época,
com o apoio do presidente norte-americano George W. Bush que foi acusado de
estimular essa prática. Luis Zuñig, secretário de Direitos Humanos da Fundação
Nacional Cubano-Americana, segundo o Miami Herald em 06 de junho de 2000, disse
que os médicos cubanos são trabalhadores escravos que ganham salários
miseráveis para reforçar a popularidade do governo da ilha e, além disso, são
exportados como commodity.
Deixo aqui bem claro que
não tenho nada contra cidadãos cubanos nem nenhum tipo de preconceito ou
xenofobia. Se for para trazerem intercâmbio científico e experiência, além de
atender as pessoas necessitadas em áreas remotas do nosso tão grande e vasto
Brasil, que sejam bem vindos, mas devemos conhecer sempre um possível segundo
lado da moeda. Declaro também que não estou questionando a capacidade e muito
menos a experiência desses médicos, acredito que são capazes de trazer
influências positivas para o Brasil do ponto de vista da atenção básica e ações
sanitárias, mas há de se saber que é um tipo diferente de medicina, e uma
dúvida sobre o caráter político e ideológico da medida.
Fonte: Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Cuban_medical_internationalism
Foto retirada do blog The Image Mirror (http://www.chesafterlife.com/theimagemirror/), localizado no site Che's Afterlife.
Foto retirada do site Pragmatismo Político (http://www.pragmatismopolitico.com.br/)
Bernardo de Andrada
Muito bom o texto!Sintetiza tudo o que eu penso.Importante também acrescentar que , estes médicos estrangeiros, estão vindo sem qualquer tipo de revalidação do diploma de Medicina .
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