sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Médicos Cubanos: O que eu não sabia


                Quando criei esse blog havia decidido que não queria aqui ficar falando de política, no entanto, decidi me expressar sobre a polêmica que já se arrasta há algum tempo: a vinda de médicos de Cuba para atuar em áreas pobres onde os médicos nacionais não teriam interesse.

Quando falamos de médicos cubanos, a grande maioria das pessoas não sabe que tipo de profissionais estamos falando, nem o povo, nem jornalistas, nem mesmo muitos de nós médicos. Por essa curiosidade resolvi pesquisar na internet e tentei, da forma mais imparcial que consegui, fazer um resumo.

Os médicos são a principal matéria de exportação de Cuba, mas talvez um tipo de médico diferente do que o Brasil está acostumado. Dispõem de 42.000 trabalhadores de saúde atuando em missões internacionais sendo 19.000 médicos aproximadamente. O programa de medicina humanitária cubana, como é chamado, começou em 1963 a atuar em países de outros continentes, principalmente África e América Latina, como parte da política anti-colonialista do governo cubano.

                Esses profissionais com anos de experiência, segundo o governo brasileiro, tem em seu currículo um vasto histórico de atuação em situações de extrema necessidade ao redor do mundo. Estiveram na independência da Argélia e muitos serviram na artilharia cubana junto a soldados na Guiné-Bissau durante a guerra de independência contra Portugal (por isso têm domínio da língua portuguesa). Uma das maiores atuações desses profissionais foi em Angola, onde ocuparam quase todo o país. Seguindo-se a isso, o programa estreitou fortes laços com a Nicarágua sendo responsável pela assistência sanitária durante a época Sandinista e com influências de um médico argentino que é bastante cubano, Ernesto Guevara, o Chê. Sem falar da atuação dos doutores na Venezuela, onde foram trocados por barris de petróleo enviados por Hugo Chávez à ilha caribenha. São médicos com uma certa característica ideológica militar, e de fato, um histórico de atuação em guerrilhas e áreas de conflito, estivessem participando junto com tropas cubanas ou não.

                São conhecidos por missões humanitárias e têm mais de décadas de experiência em uma espécie de ativismo político sanitário, esses médicos ganharam experiência sim em lidar com adversidades, pois estão preparados para a guerra. Inclusive tiveram presentes em locais devastados por terremotos como o Haiti e Cashemira, além do Sri-Lanka após o Tsunami. Cuba ofereceu 1.500 médicos aos Estados Unidos após a cidade de New Orleans ser devastada pelo furacão Katrina, porém a ajuda foi recusada por Obama por conta do histórico embargo diplomático entre os dois países. Em Honduras obtiveram significativo impacto na redução da mortalidade infantil. De 1963 a 2004, Cuba participou da criação de nove escolas de medicina pelo mundo, são elas:  Yemen, Guiana, Etiópia, Guiné-Bissau, Uganda, Gana, Gâmbia, Guiné Equatorial e Haiti.

Apesar de declararem que a vontade e o objetivo de salvar vidas e melhorar as condições humanas são absolutamente alheios a política, são conhecidos pelo mundo afora como os vetores da ideologia cubana para os outros países. Carregam em si culturalmente a ideologia revolucionária de Fidel Castro, uma espécie de militância. Um dos carros-chefes do programa em seus primórdios, e que até hoje se mantêm, é a expansão da cultura e dos ideais do país, além de ter forte papel na diplomacia do mesmo. São defensores do humanitarismo internacional e continuam recebendo o mesmo salário que sempre receberam em sua nação. Na Venezuela, políticos opositores chamaram os médicos cubanos de “embaixadores de Fidel” e estimularam a população a boicotá-los.

É importante lembrar que é frequente a deserção desses médicos como ocorreu no Zimbábue, na ocasião dois deles foram presos e deportados ao tentarem embarcar rumo ao Canadá. Há relatos também de doutores que desertaram rumo aos Estados Unidos e, contaram na época, com o apoio do presidente norte-americano George W. Bush que foi acusado de estimular essa prática. Luis Zuñig, secretário de Direitos Humanos da Fundação Nacional Cubano-Americana, segundo o Miami Herald em 06 de junho de 2000, disse que os médicos cubanos são trabalhadores escravos que ganham salários miseráveis para reforçar a popularidade do governo da ilha e, além disso, são exportados como commodity. 

Deixo aqui bem claro que não tenho nada contra cidadãos cubanos nem nenhum tipo de preconceito ou xenofobia. Se for para trazerem intercâmbio científico e experiência, além de atender as pessoas necessitadas em áreas remotas do nosso tão grande e vasto Brasil, que sejam bem vindos, mas devemos conhecer sempre um possível segundo lado da moeda. Declaro também que não estou questionando a capacidade e muito menos a experiência desses médicos, acredito que são capazes de trazer influências positivas para o Brasil do ponto de vista da atenção básica e ações sanitárias, mas há de se saber que é um tipo diferente de medicina, e uma dúvida sobre o caráter político e ideológico da medida.

 Fonte: Wikipédia - http://en.wikipedia.org/wiki/Cuban_medical_internationalism

Foto retirada do blog The Image Mirror (http://www.chesafterlife.com/theimagemirror/), localizado no site Che's Afterlife.
 
Foto retirada do site Pragmatismo Político (http://www.pragmatismopolitico.com.br/
 
 
 
Bernardo de Andrada

Um comentário:

  1. Muito bom o texto!Sintetiza tudo o que eu penso.Importante também acrescentar que , estes médicos estrangeiros, estão vindo sem qualquer tipo de revalidação do diploma de Medicina .

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