RESPOSTAS PARA PACIENTES:
Esses dias eu recebi via inbox uma pergunta de
um seguidor do blog sobre fratura de coluna vertebral. Na mensagem dizia que
sua esposa havia sofrido uma fratura de uma das vértebras lombares e vinha
mantendo normalmente os movimentos das pernas. Sua aflição era saber se ela
poderia ter algum tipo de paralisia.
Venho reparando em meus contatos com pacientes
que esta é uma dúvida muito frequente, a relação entre as fraturas de coluna e
uma possível sequela neurológica. Por isso resolvi fazer um breve texto
tentando esclarecer alguns pontos para os pacientes.
As sequelas neurológicas, também conhecidas
popularmente por paralisias, ocorrem quando o trauma na coluna atinge a medula
espinhal, uma estrutura neurológica semelhante a um cabo de transmissão de energia,
localizada no interior da coluna e que conecta o cérebro aos nossos
nervos, que por sua vez se conectam com os músculos, órgãos internos e a pele. A
medula transmite todas as informações relacionadas à sensibilidade e à
motricidade entre o corpo e o cérebro. Geralmente essas lesões são causadas por
compressões devido a deslocamentos de estruturas ósseas, em consequência das
modificações na anatomia local causadas pela dissipação da energia cinética.
O acometimento medular pode ocorrer ou não no
contexto de um traumatismo de coluna. Uma vez ocorrendo, as alterações
neurológicas podem ser transitórias ou permanentes, sendo essas últimas
consideradas sequelas.
Existem inúmeras variáveis que envolvem as
fraturas de coluna como por exemplos localização, se cervical, torácica ou
lombar. Outras incluem o tipo específico da fratura, o mecanismo do trauma, a
preservação ou não dos ligamentos, o tempo do diagnóstico, o tempo de
intervenção cirúrgica e também a idade do paciente. É sempre bom lembrar que ligamentos
são os elementos de tecido conjuntivo que unem as peças ósseas, dessa forma
eles mantêm a coluna vertebral estável. Costumo comparar a lesão de um
ligamento na coluna com o dano de um pilar de um edifício, ambos causam
instabilidade na estrutura de sustentação.
As fraturas cervicais ocorrem em diversos tipos
de traumas, desde os com grande impacto como acidente moto ciclístico e quedas
de grandes alturas, como também pode ocorrer por traumas na cabeça devido a um
vetor de força axial como, por exemplo, mergulhos em água rasa. Quando ocorre o acometimento da medula nesses
casos o paciente geralmente cursa com tetraplegia, quanto mais alto for a
vértebra acometida mais grave será a tetraplegia, podendo em alguns casos o
paciente ter um comprometimento também dos músculos que executam a respiração e
necessitar de uma traqueostomia conectada a um respirador 24 horas por dia,
como os exemplos do ator Cristopher Reeve e da estudante Luciana, atingida em
uma faculdade no Rio de Janeiro. Dependendo do grau de acometimento da medula,
a perda das funções motoras pode vir acompanhada de perdas das funções
sensitivas também. Isso significa que do nível da lesão para baixo o paciente
não sente absolutamente nada, nem tato, nem dor, nem temperatura. Determinados
tipos de tetraplegia podem vir acompanhados de disfunção no sistema nervoso
autonômico, causando assim sintomas como redução da frequência cardíaca, queda
na pressão arterial e até mesmo uma ereção involuntária do pênis, não
significando qualquer tipo de excitação sexual. Em algumas situações dependendo
da lesão medular e do tempo até a descompressão cirúrgica, o paciente poderá ou
não recuperar parte dos movimentos. Quando não ocorre o acometimento da medula
o paciente pode sentir apenas dor no pescoço
As fraturas de coluna torácica geralmente são
graves e na maioria das vezes cursam com ruptura das estruturas ligamentares
causando um deslocamento excessivo das vértebras (luxação) e acometimento da
medula espinhal, o que culmina em uma paraplegia, na maioria dos casos
permanentes, porém alguns podem recuperar parcialmente a força. É difícil,
porém ocorrem fraturas de coluna torácica com a medula intacta e dessa forma
sem acometimento motor ou sensitivo.
O acometimento neurológico nas fraturas da
coluna lombar também ocorre, porém não tão frequentemente quantos os
anteriores, mas pode haver lesão de uma estrutura neural conhecida como cauda
equina, que nada mais é do que o agrupamento de vários nervos que inervam a
região pélvica e membros inferiores. Uma lesão de cauda equina pode resultar em
sequelas desagradáveis como incontinência ou retenção urinária, perda da
sensibilidade na região da genitália, disfunção sexual e até mesmo fraqueza em
membros inferiores. Na prática, a grande maioria das fraturas de coluna lombar
evolui apenas com dor, permanecendo o paciente com as funções motoras e
sensitivas preservadas, porém pode ser necessária cirurgia para estabilização
(artrodese), pois o movimento excessivo a longo prazo pode causar perda das
funções neurológicas (força muscular e sensibilidade), ou até mesmo deformidade
(cifose).
As fraturas de coluna devem ser sempre evitadas
porque depois de estabelecido o dano a uma estrutura neurológica as sequelas
podem ser irreversíveis.
Dr. Bernardo de Andrada